A NCM e a Reforma Tributária de 2026: como preparar seu comércio

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A tributação do futuro começa pela NCM

A partir de 2026, o Brasil passará por uma das maiores mudanças tributárias das últimas décadas. O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o PIS e a COFINS serão unificados por meio do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS).

No centro dessa transformação está a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), que funciona como uma bússola da tributação. A classificação correta de cada produto será essencial, pois qualquer erro pode gerar perdas financeiras significativas ou problemas fiscais.

Mais do que nunca, a carga tributária do comércio estará concentrada na NCM. Realizar um levantamento detalhado do mix de produtos agora é a melhor estratégia para evitar surpresas quando a nova legislação entrar em vigor.

O que é NCM e como ela funciona?

A NCM é um código de 8 dígitos usado para identificar produtos no Brasil e nos países do Mercosul. Ele deriva do Sistema Harmonizado (SH) internacional, garantindo padronização na tributação e no comércio internacional.

Estrutura da NCM:

  • 2 primeiros dígitos: Capítulo (tipo de produto)
  • 4 primeiros dígitos: Posição
  • 6 primeiros dígitos: Subposição
  • 8 dígitos: Item/Subitem

Exemplo prático:

  • 2202.10.00 – Água mineral
  • Capítulo 22: Bebidas, líquidos alcoólicos e vinagre
  • Posição 2202: Águas, incluindo águas minerais
  • Subposição 220210: Bebidas não alcoólicas
  • Item 22021000: Água mineral

O papel da NCM no sistema atual

Atualmente, o NCM serve para:

  • Definir alíquotas de ICMS, PIS, COFINS e IPI;
  • Emitir Notas Fiscais Eletrônicas (NF-e) corretamente;
  • Classificar produtos da cesta básica ou com isenção;
  • Controlar importações e exportações.

O problema é que muitos varejistas copiam o NCM do fornecedor sem conferir, correndo risco de erros que podem gerar prejuízos ou multas.

Além disso, alguns fornecedores alteram os códigos para reduzir a carga tributária e tornar o preço mais competitivo, o que cria um risco adicional. Pequenos sistemas de ERP muitas vezes não validam a NCM do fornecedor versus a do varejista, uma ferramenta que poderia eliminar grande parte dos riscos fiscais.

O papel da NCM na Reforma Tributária

Com a chegada do IBS e da CBS, todas as alíquotas e benefícios serão baseados na classificação correta do produto. O governo criará uma tabela nacional única de alíquotas por NCM, válida para todos os estados e municípios.

Um erro de NCM significará aplicar a alíquota errada, impactando diretamente a margem de lucro e o aproveitamento de créditos fiscais. Portanto, revisar e atualizar o cadastro de produtos será uma prioridade estratégica.

Consequências de um cadastro incorreto

Uma NCM incorreto pode causar:

  • Recolhimento a maior (perda financeira);
  • Recolhimento a menor (autuação e multa);
  • Perda do direito a créditos tributários;
  • Inconsistências no SPED e cruzamentos automáticos com a Receita Federal.

A fiscalização será digital e automatizada, cruzando NCM x alíquota x nota fiscal. Pequenos comerciantes não estão fora do radar: todos são monitorados mecanicamente, sem a presença de um fiscal, e os erros podem gerar custos altos.

Como preparar o cadastro de produtos

Para evitar problemas com a reforma, os varejistas devem:

  • Revisar o NCM de todos os produtos, principalmente os que têm tributação diferenciada (alimentos, higiene e limpeza).
  • Atualizar o ERP e a descrição dos produtos para refletir a classificação correta.
  • Treinar a equipe de compras e estoque para identificar erros no NCM dos fornecedores.
  • Criar uma rotina de auditoria fiscal interna.
  • Documentar todas as fontes de classificação, como legislação e consultas fiscais.

Exemplo prático

Produto: “sabão líquido para roupas”

  • NCM correto: 3402.20.00
  • NCM incorreto: 3401.30.00 (sabão em barra)
  • Consequência: aplicação da alíquota errada e perda de crédito, impactando preço de venda e margem.

A distância entre o comerciante e o contador

Um dos maiores desafios para os varejistas é a distância entre o comerciante e o contador. Muitos empresários veem o contador apenas como um profissional que “resolve impostos” no final do mês, sem envolvê-lo na operação do dia a dia. Essa distância pode ser perigosa com a reforma tributária, porque o IBS e a CBS dependem de cadastros corretos e do aproveitamento de créditos fiscais.

A comunicação constante é essencial: o comerciante precisa compartilhar informações detalhadas sobre produtos, fornecedores e estoque, enquanto o contador deve orientar sobre classificação fiscal, NCMs e estratégias de crédito.

Essa aproximação transforma o contador em um parceiro estratégico, não apenas um prestador de serviço. Comerciantes que mantêm essa parceria ganham segurança fiscal, reduzem riscos de autuações e conseguem controlar melhor a margem e a rentabilidade, especialmente em um cenário tributário mais complexo e automatizado.

O contador como aliado na classificação

Além de reduzir riscos, o contador pode:

  • Orientar sobre enquadramento fiscal correto;
  • Revisar o cadastro antes da transição;
  • Garantir que os créditos do IBS/CBS sejam corretamente aproveitados;
  • Transformar a contabilidade em uma ferramenta de gestão, ajudando o comerciante a tomar decisões mais estratégicas.

Conclusão

A NCM como o “CPF” do produto

Na nova era tributária, a NCM deixa de ser apenas um campo da nota fiscal e se torna a chave da gestão fiscal do negócio.

O comerciante deve se aliar ao contador e revisar todo o cadastro de produtos antes da implementação da nova legislação, identificando falhas e preparando um raio-X completo da operação.

Empresas que dominam seu cadastro dominam seus números. E quem domina seus números não perde dinheiro para o fisco.

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Foto de Sueli Angarita

Sueli Angarita

Gestão de estoque que dá resultado começa com uma pergunta: você realmente entende o seu cliente?"

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